Compositor: Miguel Muñiz
Essas terras do recanto
Semeei com um boi lento
O jugo quebrou
E os bois saíram andando
Quando cheguei no meio da terra
O arado estava enterrado
Estava enterrado até a metade
O cabo entortou
O cabresto ia se afastando
O jugo estava roçando
O semeador estava falando comigo
Eu disse ao semeador
Não fale comigo quando eu estiver arando
O jugo quebrou
E os bois saíram andando
Quando terminei a colheita
O rico veio e levou tudo
Levou todo o meu milho
Não deixou nem o da comida
Me apresentou a conta
Você deve vinte pesos
Do aluguel de uns bois
Cinco pesos de agaves
Uma remessa, três potes
Do feijão que te emprestamos
Uma remessa, três potes
Do milho que te deixamos
Cinco pesos de uns tecidos
Sete pesos de cigarros
Seis pesos de não sei quê
Mas está tudo na conta
Além dos vinte reais
Que você pegou da loja
Com todo o milho que você tem
Você não paga à fazenda
Mas usa as minhas terras
Para continuar plantando
E agora vá trabalhar
Para continuar pagando
Eu só fiquei pensando
Sacudindo minha coberta
Fazendo um cigarro de folha
Ai, que patrão tão sem-vergonha
Levou todo o meu milho
Para o seu maldito armazém
O jugo quebrou
E os bois saíram andando
Quando cheguei na minha casinha
Minha amada me dizia
Cadê o milho que você plantou?
Eu respondi muito triste
O patrão levou tudo
Por causa das dívidas na fazenda
Mas o patrão me disse
Para pegar lá na loja
Agora vou trabalhar
Para continuar lhe pagando
Vinte pesos, dez centavos
Uns que tenho faltando
Minha amada me dizia
Não trabalhe mais para esse homem
Ele só está nos roubando
Vá à assembleia
O meu compadre te leva
Não dê ouvidos ao padre mais
Ele e suas excomunhões
Ele não vê que sua família
Não tem mais o que vestir?
Eu não tenho mais saia
Nem você tem calças
Eu só fiquei pensando
Por que larguei o meu patrão?
Minha amada me dizia
Que se dane o seu patrão!
Estamos morrendo de fome
Se você continua acreditando
No que o padre te dizia
Dos castigos do inferno
Viva a revolução!
Morte ao supremo governo!
O jugo quebrou
E os bois saíram andando